JUNHO DE 2013
As ruas e o destino em nossas mãos!
Diante dos fatos, de fartas memórias recentes e nem tão recentes, vale uma pequena digressão histórica para tentar entender melhor o que está diante de nós nas ruas do País.
Desde 1990, em plena era Collor de Mello iniciamos nossa luta, contra os ataques que se faziam aquilo que entendemos fosse um patrimônio público.
Nos mobilizamos,fizemos denúncias a toda a sociedade dos riscos da “globalização”, termos ainda pouco usado, a abertura de mercado para o capital privado nacional e internacional.
Vimos de maneira emocionada os jovens brasileiros de caras-pintada, que foram às ruas e afastar um presidente de “faz-de-conta”.
Enquanto a Nação vivia uma decepção surreal com o impechament do “caçador de marajás”, conheceríamos um Itamar Franco, que viria ser o protagonista do ânimo patriótico e, surpreendentemente, viabilizaria as bases da sonhada estabilidade econômica.
A sequência desta história, novamente, frustraria nossas expectativas. Um surto neo-liberal chegou na era FHC. Um turbilhão de privatizações, especialmente a das telecomunicações, provocaria uma onda de precarização e terceirização nas relações trabalhistas. Criou-se uma equivocada moda de demonização das estatais e uma falsa tese que esse desmonte limparia o País.
De lá pra cá, só o que vimos foi o aprofundamento de todo tipo de crueldade e desrespeito que se possa ter pela Classe Trabalhadora, usando a terceirização como ferramenta – pretensamente moderna – para multiplicar lucros nas costas dos empregados, terceirizados ou não.
Mais do que isso! A escalada da lucratividade não observou nem o princípio elementar de mercado: a concorrência. Vemos, hoje, quando não cartéis setorizados, mas empresas dominando sozinhas e oferecendo os piores serviços aos usuários, ou seja, caros – entre os mais altos do mundo – e ineficientes – muitas vezes inexistentes!
Neste tsunami neo-liberal, alterou-se tudo em nome do lucro e até o governo passou a ser uma espécie de empresa, em muitos casos, a mais cruel. Se alguém duvida, podemos citar alguns exemplos como a extinção prática da aposentadoria por tempo de serviço com a invenção do Fator Previdenciário; e a conhecida desindexação das aposentadorias com o salário mínimo, criando-se com o novo fator o tal de salário de referencia. Uma forma – criativa e maquiavélica, de diminuir gradativamente o valor da aposentadoria.
Como se estivéssemos vivendo o fim dos tempos, eis que encontra-se espaço para piorar. Acompanhamos, em pouco mais de uma década pra cá, um clima de novo engano nacional, embalado pela ampliação de bolsas aos mais necessitados, um biombo bem arrumado para enfumaçar as velhas chagas da corrupção e da política feita com “p” míope.
Decorrente deste novo engodo político e sofisma ideológico, estamos diante das mais perversas ações federais, como a máquina de desmontar patrimônio chamada de PPP, a tal Parceria Público Privada, fonte mantenedora de privatizações, entre elas a cobrança de pedágios, a desestatização dos portos, aeroportos, só pra citar alguns. O ícone do novo entreguismo viria na esteira da Fifa e da Copa: a construção milionária de arenas esportivas e a privatização do maior estádio do mundo, o Maracanã. E tudo com o sofisticado deboche de sempre: obra espetacular financiada com dinheiro público do BNDES, uma velha receita que já havíamos provado na privatização das telecomunicações.
Mas, como não há mau que sempre dure, eis as ruas, mais uma vez!
Novamente, surgiu em praças e avenidas, num coro uníssono o Hino Nacional, o protesto, os caras-pintada, os cartazes feitos em casa e nos pátios das escolas, em todo País. O povo de volta para avisar que a paciência se esgotou.
O que se vê, agora, é um novo desafio, uma tarefa de transfusão das forças populares, uma necessidade de refazer a política, devolver dignidade a ela, torna-la respirável, proveitosa, reconstruí-la “do bem” e, novamente, seguir a caminhada para os aperfeiçoamentos democráticos, custe o que custar, removendo entulhos, condenando e denunciando as velhas práticas, cortando o mal pela raiz de forma a não mais voltar.
Essa a tarefa de todos nós: saber transformar as manifestações, os protestos, a insatisfação nacional, numa energia real e transformadora, com rumos e direção e conteúdo, capaz de nos levar a um porto seguro, minimamente confiável e que nos garanta controle e participação permanente.
Aqueles que pensam que poderão manipular esta geração manifestante, com as velhas práticas políticas, se enganam demais! Vão inviabilizar a politização correta, vão deixar na mão de vândalos apenas a anarquia como opção.
O que está diante de nós é a necessidade imperiosa de remodelar e devolver rapidamente a credibilidade dos partidos e instituições e torna-las aptas às suas funções indispensáveis de vanguarda e condutoras das transformações e reformas. Sem isso, pouco valerá esta explosão nacional, justa e própria, para escrever de forma positiva este período de nossa história.
Nossa indignação – cheia de razões e pertinências, precisa oferecer alternativas viáveis de caminhos para que a Democracia ser a alma das transformações que urgem! Esta é a exata tarefa de todos nós,
dirigentes e sociedade organizada, conscientes e responsáveis. Cá estamos, mais uma vez, chamados pela pátria em sua defesa. Não vamos decepcioná-la!
O raiar do novo dia precisa da nossa mão firme no leme. O destino da Nação, de novo, é nosso. Vamos construí-lo, então!
Sergio Domingues da Silva
Presidente do Sinttel-SC